Começa o ciclo do Marabaixo no Laguinho...

ANÚNCIO DO CICLO DO MARABAIXO É COM FESTAS NAS RUAS DO LAGUINHO

No fim da tarde de sábado o bairro do Laguinho foi alegrado com caixas de marabaixo, foguetes e saias floridas arrastando nos pés. Foi o jeito moreno do bairro de anunciar mais um Ciclo do Marabaixo que vai iniciar como manda a tradição e o calendário católico, no Domingo de Páscoa com o Marabaixo da Ressurreição. Danniela Ramos, bisneta do Mestre Julião Ramos comandava a comitiva que fazia o convite cantado no improviso de “ladrões” de casa em casa onde eram recebidos pelos moradores com todas as honras merecidas.

No Laguinho, os festeiros Mestre Pavão e Tia Biló, abrirão suas casas para receber os convidados durante todo o ciclo, que encerra em maio, no Domingo do Senhor. Assados, gengibirra e caldo pra agüentar a festa inteira sem cair são receitas que completam a festa. Os cantadores de ladrões são personalidades de grande importância tanto quanto os tocadores de caixa. Naíra, Marilene, Danniela, Laura, Pavão, Alessandra, Tia Zefa, Raimundo Paulo, Munjoca, Nena e Mônica são alguns, sem contar as dançarinas, que por toda a noite arrastam os pés no meio da roda imitando o andar dos negros escravos com correntes nos tornozelos. Elas giram com copos na mão, garrafas de gengibirra na cabeça, abraçadas, cada uma com um estilo particular.

“Ladrão” é pela forma que os cantadores “roubam” a música que o outro canta e faz um verso improvisado no mesmo ritmo. O ladrão é um reflexo do dia-a-dia das comunidades negras e contam histórias vivenciadas por eles. Um exemplo é o ladrão “...hê, hê, a irmã Catita zerô salão, assim, atracada assim eu não subo não...”, que conta a história verídica do avião que caiu em frente à cidade de Macapá e a irmã Catita foi um apelido dado à filha de uma autoridade na época. Os negros autores do improviso temeram que alguma represália pudessem ter se revelassem o nome verdadeiro. Zerô, no palavreado deles, quer dizer chegou. Os ladrões feitos no início da criação do território do Amapá, como o famoso “aonde tu vais rapaz...” e “rosa branca açucena...”, são até hoje cantados e adaptados com histórias e personagens atuais.

A roda de marabaixo é muito democrática, todos são convidados a entrar, de qualquer cor, raça, idade, sexo, nem precisa estar vestido com a roupa característica. O normal é jovens, crianças e adultos cada qual em seu grupo, na sua festa, no marabaixo é diferente, todos se misturam, sem preconceitos. O profano e o religioso também se misturam, a programação inclui o marabaixo, bailes e ladainhas em louvor à Santíssima Trindade e Divino Espírito Santo, os santos homenageados.

Este ano no início dos festejos tem uma novidade, o lançamento do documentário “ Ciclo de amor, fé e esperança”, em que festeiros e participantes do marabaixo falam da tradição e contam muitas histórias das festas. Tomé Azevedo, diretor e Ana Vidigal, produtora-executiva, conseguem emocionar e ensinar a quem assiste, um pouco desta festa que também é história pura da nossa terra. Os personagens vivos como Pavão e Tia Biló estão aí pra contar muito mais histórias, e seus descendentes lutam pra que a tradição não morra. Se depender deles, o marabaixo não será esquecido, já está eternizado.

Por Mariléia Maciel