domingo, 24 de agosto de 2008

Razões de um fracasso olímpico...

Resultado em Pequim reflete falta de política esportiva e concentração de poder no COB, diz jornalista

Diante da fraca colocação do Brasil no quadro geral de medalhas dos Jogos Olímpicos de Pequim, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e os dirigentes esportivos terão de encontrar outra justificativa que não a propalada falta de recursos para explicar o pífio desempenho dos atletas brasileiros. Afinal, nunca houve tanto recurso para o esporte neste país como nos últimos oito anos.

A avaliação é do subeditor de Esportes do Correio Braziliense, José Cruz, que é considerado o profissional de imprensa brasileiro que mais conhece política de esporte. Com a experiência de quem acompanha de perto os bastidores do Ministério do Esporte há mais de 15 anos e traz no currículo a cobertura de duas olimpíadas, ele faz um diagnóstico desolador para um país que reivindica o direito de sediar os jogos de 2016.

Para José Cruz, o governo federal faz o seu papel ao abastecer os cofres das entidades esportivas, mas se omite ao não participar da gestão desses recursos e ao deixar de implementar uma política desportiva pública, concentrando dinheiro e poder nas mãos do COB e do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB).

"E essas instituições, que são entidades civis, gastam os recursos de acordo com as prioridades que elas fixam, sem a participação de nenhum representante do Ministério do Esporte", critica. Nos últimos sete anos, lembra ele, só o comitê olímpico recebeu mais de R$ 500 milhões do governo federal.

Mudanças na gestão dos recursos

José Cruz acredita que o fraco desempenho da delegação brasileira em Pequim causará ao menos dois efeitos: reduzirá as chances da candidatura do Rio a sede olímpica e levará o Ministério do Esporte a acompanhar mais de perto a definição de prioridades pelos cartolas.

Para o jornalista, o país conseguiu superar nesta década a tradicional falta de recursos com o apoio das estatais e o advento da Lei Agnelo/Piva (10.264/01), que prevê o repasse de 2% da arrecadação das loterias para o esporte olímpico, e da Lei de Incentivo ao Esporte, criada para beneficiar atletas sem patrocínio. "A Lei Agnelo/Piva destina também recursos para o desporto escolar e o universitário. Quem gerencia e quem administra esses recursos é o COB. Não deveria estar na mão do COB."

O problema, ressalta, é que o dinheiro repassado às entidades quase nunca chega à base, o que dificulta o surgimento de novos talentos e a formação dos desportistas. Precariedade agravada com a falta de definição do papel de estados e municípios no fomento ao esporte.

Rio 2016

Crítico da candidatura do Rio aos jogos de 2016, José Cruz diz que basta olhar o abandono das obras construídas para o Pan-Americano do ano passado para se chegar à conclusão de que o país não está preparado para sediar o mais grandioso evento esportivo do planeta.

Além disso, denuncia, que as autoridades brasileiras estão mais preocupadas com os dividendos políticos e econômicos que poderão tirar com as obras que precisarão ser construídas do que com a formação propiciada pelo esporte. "Pensam dessa forma mirabolante em detrimento do mais elementar do esporte, que é a formação do atleta. Não pensam no ser humano, no jovem, no atleta, na sua formação de caráter como homem. Pensam em construir, construir e construir", emenda.

Imprensa ufanista

Cruz também responsabiliza parte da imprensa pelo sentimento de frustração provocado pelo desempenho brasileiro em Pequim. "A imprensa brasileira é muito alvissareira, muito torcedora antes de ser analista e crítica", considera, citando a supervalorização de resultados ilusórios do Pan como exemplo.

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